segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

INTERVENÇÃO, SÓ SE FOR NA EDUCAÇÃO!




INTERVENÇÃO, SÓ SE FOR NA EDUCAÇÃO!


Por Marli Dias Ribeiro




Muitos concordam que a segurança pública no Brasil passa por uma crise grave e alarmante. Se a educação fosse prioridade, o Ministério da Justiça estaria com poucos problemas. Projetos de diversos governos se mostraram ineficientes ao longo de décadas na pasta da segurança pública. Na TV, nos jornais e revistas as páginas policiais aparecem pintadas de vermelho, um vermelho de sangue das vítimas, ou um preto que reflete o luto das famílias. Você acredita que uma intervenção pode resolver de forma pontual uma violência construída por anos de descaso na educação, abandono das escolas, dos professores? E se todo o esforço interventivo fosse direcionado às crianças, aos jovens, à escola?  

Afundado em uma impopularidade alta o Presidente Temer decretou a intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro. De forma excepcional, a Constituição de 1988, artigo 84, aponta essa atribuição que foi aprovada pela Câmara dos Deputados e Senado Federal, numa noitada de debates. Foi rápido, bateram o martelo e o Rio de Janeiro está até 31 de dezembro de 2018 sobre intervenção. Quanta agilidade!  

A crítica, os especialistas, alertam que o impacto da intervenção na violência será paliativo. Sem medidas sociais que combatem o desemprego, que assegurem a educação das crianças, o serviço social e de apoio aos jovens dependentes químicos, e outras,  nada será resolvido. Acrescenta-se ainda a ausência de planejamento, de metas e organização do projeto apresentado.

Ações de inteligência que combatam o crime organizado e as grandes quadrilhas de tráfico, grandes investimentos na formação de policiais são fundamentais. Construir escolas e creches é urgente. Educar será sempre melhor que matar.  

As comunidades podem ter uma falsa sensação de segurança, os marginais podem apenas deslocarem-se de Estado, mas ao fim dos projetos voltarão as favelas para recrutar os jovens carentes se a situação de abandono social e educacional for a mesma de hoje. Os menos favorecidos, os marginalizados, os afrodescendentes são as primeiras vítimas. A intervenção do Estado deve começar na educação, na prevenção, no acesso à cultura, ao emprego. Intervenção sim, mas na escola. Agilidade sim, mas se forem para liberar verbas públicas ao Ensino Integral, construir muitas creches, bibliotecas, oferecer formação e apoio as famílias em situação de risco.

Intervenção sim, para oferecer possibilidades e oportunidades para que nossos estudantes fiquem na escola e digam não as drogas, ao dinheiro do tráfico, e não sejam soldados do crime. Os custos desse decreto, somente seriam justificados se fossem utilizados em ações educativas e sociais. É muita incompetência pensar numa ação isolada para resolver uma questão tão complexa. 
Por fim, como disse Darcy Ribeiro (1922-1997),  em uma conferência em 1982,  “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”.  Assim, vamos  lutar por uma intervenção, porém educativa.  

Imagem: https://br.noticias.yahoo.com/ninguem-fala-quem-sao-os-verdadeiros-alvos-dessa-intervencao-militar-202250389.html

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Concordo, Marli. Decretar intervenção foi uma forma de mascarar a impopularidade do governo, que já reconhecia a falta de apoio para aprovar seus projetos. Escolas, livros e cultura são armas que ameaçam a estabilidade do sistema corrupto, que saqueia diariamente o que os nossos jovens poderiam oferecer de melhor, se recebessem educação de qualidade. Certamente, há inúmeros talentos que se perdem em meio a esta violência, oficialmente fomentada pelo governo.

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  3. Bem vinda ao blog. É muito importante ampliar o debate e entender que o problema é maior, mais complexo e envolve ações coletivas e não isoladas. Obrigada por participar.

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