segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

INTERVENÇÃO, SÓ SE FOR NA EDUCAÇÃO!




INTERVENÇÃO, SÓ SE FOR NA EDUCAÇÃO!


Por Marli Dias Ribeiro




Muitos concordam que a segurança pública no Brasil passa por uma crise grave e alarmante. Se a educação fosse prioridade, o Ministério da Justiça estaria com poucos problemas. Projetos de diversos governos se mostraram ineficientes ao longo de décadas na pasta da segurança pública. Na TV, nos jornais e revistas as páginas policiais aparecem pintadas de vermelho, um vermelho de sangue das vítimas, ou um preto que reflete o luto das famílias. Você acredita que uma intervenção pode resolver de forma pontual uma violência construída por anos de descaso na educação, abandono das escolas, dos professores? E se todo o esforço interventivo fosse direcionado às crianças, aos jovens, à escola?  

Afundado em uma impopularidade alta o Presidente Temer decretou a intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro. De forma excepcional, a Constituição de 1988, artigo 84, aponta essa atribuição que foi aprovada pela Câmara dos Deputados e Senado Federal, numa noitada de debates. Foi rápido, bateram o martelo e o Rio de Janeiro está até 31 de dezembro de 2018 sobre intervenção. Quanta agilidade!  

A crítica, os especialistas, alertam que o impacto da intervenção na violência será paliativo. Sem medidas sociais que combatem o desemprego, que assegurem a educação das crianças, o serviço social e de apoio aos jovens dependentes químicos, e outras,  nada será resolvido. Acrescenta-se ainda a ausência de planejamento, de metas e organização do projeto apresentado.

Ações de inteligência que combatam o crime organizado e as grandes quadrilhas de tráfico, grandes investimentos na formação de policiais são fundamentais. Construir escolas e creches é urgente. Educar será sempre melhor que matar.  

As comunidades podem ter uma falsa sensação de segurança, os marginais podem apenas deslocarem-se de Estado, mas ao fim dos projetos voltarão as favelas para recrutar os jovens carentes se a situação de abandono social e educacional for a mesma de hoje. Os menos favorecidos, os marginalizados, os afrodescendentes são as primeiras vítimas. A intervenção do Estado deve começar na educação, na prevenção, no acesso à cultura, ao emprego. Intervenção sim, mas na escola. Agilidade sim, mas se forem para liberar verbas públicas ao Ensino Integral, construir muitas creches, bibliotecas, oferecer formação e apoio as famílias em situação de risco.

Intervenção sim, para oferecer possibilidades e oportunidades para que nossos estudantes fiquem na escola e digam não as drogas, ao dinheiro do tráfico, e não sejam soldados do crime. Os custos desse decreto, somente seriam justificados se fossem utilizados em ações educativas e sociais. É muita incompetência pensar numa ação isolada para resolver uma questão tão complexa. 
Por fim, como disse Darcy Ribeiro (1922-1997),  em uma conferência em 1982,  “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”.  Assim, vamos  lutar por uma intervenção, porém educativa.  

Imagem: https://br.noticias.yahoo.com/ninguem-fala-quem-sao-os-verdadeiros-alvos-dessa-intervencao-militar-202250389.html

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

SEMANA PEDAGÓGICA E AVALIAÇÃO


SEMANA PEDAGÓGICA E AVALIAÇÃO

JÁ REALIZOU A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA?


POR MARLI DIAS RIBEIRO





Avaliar exige coragem, escolha e determinação. Exige olhar o outro, se olhar e se conscientizar. Nesse rumo, ao abordamos o tema avaliação, os debates sempre passam pelos resultados de provas, tabelas, gráficos de aprovação, reprovação, e dados dos exames de larga escala como o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). 
Entretanto, na escola todo coletivo pode ser objeto de avaliação, constituindo a avaliação das aprendizagens uma parte da avaliação do sistema educativo mais debatida e necessária. Cabe frisar, que apesar de estar associada a testes, muito das atividades avaliativas envolvem aspectos subjetivos, e mais que medir, o debate sobre as questões éticas e técnicas devem existir. Todos devem fazer parte desse processo.

Avaliações que fazem um percurso em testes padronizados e resultados métricos são as mais comuns no Brasil. Por outro lado, se faz necessário considerar que os resultados obtidos na escola são frutos de um conjunto de fatores que estão além das provas e das taxas obtidas nas estatísticas. Essa lacuna deixada pode ser preenchida quando o professor e a escola realizam uma avaliação DIAGNÓSTICA efetiva, FORMATIVA e participativa no início do ano letivo.

O principal sistema de avaliação implantado no Brasil é o SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica). Ele iniciou na década de 80 e conjuga testes em formato de provas e questionários para estudantes e escolas.  As amostras abarcam todo o país, passando por regiões, estados e municípios para escolas públicas e privadas. Podemos dizer que se trata de uma avaliação diagnóstica, mas, os resultados abrangem apenas português e matemática, já no final das etapas de ensino, nos últimos anos.
Outro aspecto a destacar é que o SAEB possui maior base de dados para o Ensino fundamental e em alguns casos a realização das provas são por censo. No caso do Ensino Médio, alcança apenas as redes Estaduais e o ENEM, (Exame Nacional de Ensino Médio) possui outro formato avaliativo.

Diante desses dados, fica evidente que para a escola é de muita importância organizar e realizar sua própria avaliação diagnóstica. A criatividade na sua aplicação e forma de aplicação mostra-se diversificada, passando por provas, testes, rodas de conversa, produção de textos, entre outras.  Não estamos apontando que os exames já realizados em larga escala não sejam importantes. O fato a se refletir é a sua generalidade. Uma avaliação mais contextualizada, mais específica, produzida pelo coletivo da escola, por seus professores, certamente servirá como ferramenta fundamental para a organização curricular e sua adequação, assegurando de forma mais específica a comunidade escolar atendida.

A ideia é iniciar o ano letivo, o bimestre ou um novo conteúdo, mais consciente dos principais conhecimentos dos alunos e suas necessidades, para implementar um planejamento com informações acertadas e claras a fim de orientar o processo de ensino aprendizagem. Desta forma, pode-se recorrer a momentos diversos de avaliação diagnóstica, tais como no início de um novo tema, unidade de ensino ou sempre que ficar evidente sua necessidade.

Prepare seu planejamento de forma consciente  inserido  uma AVALIAÇÃO FORMATIVA E DIAGNÓSTICA.  Avalie sua turma, seu trabalho, seu planejamento e as possibilidades de avançar na aprendizagem de seus alunos serão muito maiores.
Uma avaliação refletida pode promover novos horizontes ao do professor, á escola, sendo, portanto, aliada de todos.


PARA SABER MAIS:
FREITAS VILLAS BOAS, Benigna Maria de. Avaliação formativa e formação de professores: ainda um desafio. Linhas críticas, v. 12, n. 22, 2006.
ROSADO, António; SILVA, Catarina. Conceitos básicos sobre avaliação das aprendizagens. Pedagogia do Desporto–Estudos, v. 6, 1999.
IMAGEM: Internet


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

ETHOS, A ÉTICA PERDIDA É ENCONTRADA NA ESCOLA


Ethos, a ética perdida é encontrada na escola


Sem competência ética hoje, não haverá profissional ético amanhã. Precisamos começar.

Por Marli Dias Ribeiro




A palavra ética é de origem grega derivada de ethos, que diz respeito ao costume, aos hábitos e atitudes dos homens. Também pode ser entendida como sendo uma reflexão sobre o valor das ações sociais, coletivas, consideradas em dada sociedade. Requer de cada um de nós o exercício de um pensamento crítico e reflexivo quanto aos valores e costumes vigentes (RIBEIRO, 2018). 

Ao nos depararmos com o compromisso do trabalho educativo engajado e imerso em ideias sociais, transformadoras e democráticas estamos vinculados ao desenvolvimento de ações que superem o individualismo, e dê espaço a ética. 
Será que perdemos a noção do bem comum, das virtudes, do amor ao próximo em nossa ação pedagógica?  Acredito que não. Vejo um brilho de alegria nos olhos dos alunos ao concluírem um ano letivo ou ao voltarem das férias a cada início de ano letivo. Essa esperança nos motiva a redescobrir a ética.

Sem ética a excelência profissional passa a ser um número sem sentido, uma meta sem propósito.  Avançar numa trajetória de valores passa por  desenvolver sentimentos de acolhimento, ajuda ao próximo. O ambiente escolar é bastante favorável a essas práticas. Nós, professores,  carregamos essa competência e compartilhamos com nossos estudantes  todos os dias. Ela não está perdida para nós, talvez, para alguns possa estar adormecida, mas é certo que acordará com o grito e o sorriso das crianças.

A ética, pedra preciosa na sociedade atual, nas escolas não pode faltar, sejam nas competências, atitudes e valores. Creio não existir bons profissionais que não sejam pessoas com estímulo pessoal contínuo a buscarem ser cada dia melhores. 
De fato, ao observamos os eventos políticos, econômicos, as crises em todo Brasil e no mundo compreendemos que ainda carecemos em romper paradigmas e formar profissionais com perfil que suponha desenvolver competências éticas. Nossa tarefa educativa foi e continua  árdua nesta arena.

As iniciativas serão nas pequenas ações de planejamento, no cotidiano da sala de aula, na organização da escola, no nosso exemplo na escola, na rua, no bairro. Somos, sim, exemplo para muitos.  Avançaremos por discernir de forma reflexiva cada pequeno gesto com nossos estudantes, atuar com honestidade, buscar o melhor ao coletivo, sermos mais democráticos, solidários. Poderíamos listar inúmeros valores, virtudes que são inerentes ao convívio social para iniciar a caminhada. Por isso o motivo do convite...

     Vamos inserir as questões éticas em todo nosso currículo? 
Será necessário debater também esse tema profissionalmente, politicamente, nas nossas famílias, e claro na escola. 

      Sem competência ética hoje, não haverá profissional ético amanhã. Precisamos começar. Começar com o valor do nosso exemplo, da nossa vontade e de nossa capacidade de fazer uma educação pautada em valores e no diálogo.


RIBEIRO, Paulo Silvino. "O que é ética?"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/o-que-etica.htm>. Acesso em 19 de fevereiro de 2018.

Imagem: Bloger/charge-do-dia-etica-e-educacao.html



quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

VIOLÊNCIA, ESCOLA E A VULNERABILIDADE SOCIAL


VIOLÊNCIA,  ESCOLA E A VULNERABILIDADE SOCIAL

EXISTEM POSSIBILIDADES PARA ESCOLA  ACOLHER ESTUDANTES EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL? 

ESSE FATO TEM RELAÇÃO COM A VIOLÊNCIA?




POR MARLI DIAS RIBEIRO








Não podemos esquecer que até metade do século XX nosso país amargava altos índices de analfabetismo, seleção para acesso ao ensino e uma educação seletiva onde os jovens das classes populares dificilmente conseguiam entrar na escola. As instituições de ensino eram e sempre foram formatadas para atender e formar os filhos da elite. Apesar de temos avançado muito em relação ao acesso, as marcas desse processo de exclusão permanecem ainda hoje em nossas instituições. Ainda são mais de 2,5 milhões de excluídos, alunos fora da escola (MEC, 2017).

A escola abriu-se, o acesso foi ampliado, mas os estudantes das  classes sociais de baixa renda ainda são marcados pelo fracasso, pelas desvantagens e por sofrimentos oriundos de suas carências sociais. O último censo escolar ainda aponta que a evasão, a reprovação e baixa qualidade em exames nacionais e internacionais  afligem muitos dos alunos em situação de risco e pobreza.

Os debates acerca dos estudantes que estão em situações de vulnerabilidade e risco social muitas vezes é negligenciado pelas escolas. Autores como Caliman (2008) argumentam que situações de riscos que envolvem fatores instrumentais como a pobreza, drogas, violência física e psicológica, fatores de integração social como a formação do sujeito, questões de ordem de identidade cultural como a falta do sentido da vida, e a própria formação da identidade do indivíduo podem ser gatilhos importantes para que o indivíduo  esteja associado à transgressão.

Os estudos têm revelado que existem dificuldades evidentes de aprendizagem em alunos que sofrem agressões físicas, passam fome, passam por violência psicológica, são financeiramente mais pobres, moram em locais de risco e violência, entre outras. O grave está no fato de que são essas crianças e jovens que mais precisam da escola, e estão diretamente afetados pelos índices de evasão, reprovação e abandono.

Diante desse cenário, fica evidente que enquanto espaço democrático, a escola deve se preparar para ser instrumento de acolhida aos estudantes vulneráveis. Negar as fragilidades desses sujeitos e suas necessidades não parece ser a melhor estratégia de ação. Os projetos pedagógicos, as aulas e todo o ambiente deve compreender a importância de planejar dentro das novas realidades que se apresentam e buscar incluir sempre. Entretanto, estamos cientes que em muitos casos a estrutura física, de pessoas e assistência do Estado, raramente estão presentes para fortalecer o apoio e o acompanhamento que os alunos carecem, porém, a realidade está posta e estamos inseridos nela.

Parece ser um problema envolto numa pesada carga e sem solução. No entanto, enquanto educadores, nossa ação pedagógica pode se orientar por planos de aula, projetos interventivos, busca de parcerias. Nossa tarefa será sempre buscar e acreditar nas potencialidades, nos recursos e na capacidade de resiliência do sujeito. O que oferecemos na escola pode ajudar o jovem, a enfrentar criticamente as situações de mal-estar, e que possa reagir positivamente ao risco. A VIOLÊNCIA PODE SER PREVENIDA COM AÇÕES  DE CUNHO EDUCATIVO, SOCORRO SOCIAL E ACOMPANHAMENTO.

Por fim, é sempre importante trabalhar numa ótica voltada à ação educativa e preventiva, não como resposta pronta e única, mas como recurso associados a outras possibilidades que se abrem. Ter fé e acreditar em nossa tarefa transformadora, pois cuidar do aluno, da escola é investir no futuro.


CALIMAN, Geraldo. Paradigmas da exclusão social. Brasília: Editora Universa, UNESCO, 2008.368 p.


IMAGEM: internet




sábado, 10 de fevereiro de 2018

VAMOS PULAR CARNAVAL, MAS COM O PÉ NA CRÍTICA !


VAMOS PULAR CARNAVAL, MAS COM O PÉ NA CRÍTICA!


POSSIBILIDADES E DESAFIOS DA PEDAGOGIA HISTÓRICO CRÍTICA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA



POR MARLI  DIAS RIBEIRO



Olá lá, lá ô, ô, ô, ô, ô mais que calor ooooo....


Estamos em festa no Brasil. Chegou o carnaval e brincar, festejar, requer de nós uma postura crítica. Diversão e alegria são obviamente desejadas nesse período, mas nossos jovens estão educados para olhar criticamente esse movimento cultural? 
Essa   frase nos convida a uma profunda reflexão. “A aprendizagem do conhecimento supõe uma estrutura cognitiva já existente na qual o aluno, o jovem e nós, possamos nos apoiar; caso este requisito não esteja dado, cabe ao educador prover”, (SAVIANI, 1991). A pedagogia proposta por Demerval Saviani faz uma grande aposta na postura, na formação e na capacidade que nós docentes temos de transformar a educação em possibilidades reais.
Formar-se é um movimento que faz parte da prática educativa. Na pedagógica crítica indicada por Saviani ( 1991),  a superação de práticas difusas, fragmentadas rumo a uma ação voltada à construção do conhecimento inserido no contexto do aluno e do professor, e também, voltado às suas necessidades e realidades sugerem que todo planejamento da escola tenha relação direta da teoria e da prática. Uma conscientização do saber mostrada por Freire (1981). Não serve apenas, no carnaval, recortar confetes e máscaras na escola, a proposta deve superar a simples repetição de tarefas. Por que o carnaval existe? Quando e de que nos serve? Ele é importante, aqui em nossa realidade? O questionamento é fundamental. Assim, para Freire (1981), pensar na ação transformadora necessária ao fazer pedagógico é uma chamada clara à ação-reflexiva da prática e o descarte ao comodismo e à apatia.
Quando abraçamos uma abordagem Histórico crítica nos baseamos numa difusão dos conteúdos universais que são incorporados pela humanidade, em um método que parte de uma relação direta da experiência do aluno confrontada com o saber, aluno como protagonista, professor como mediador, aprendizagem baseada nas estruturas cognitivas, e uma escola para a transformação social.
Quando incentivamos e buscamos uma ideologia Histórico crítica procuramos orientar nossas práticas em princípios e fundamentos tais como:

Interdicisplinaridade           e        Contextualização;
Transversalidade   e      Unicidade entre teoria e prática;
Avaliação formativa   e    Educação para a Diversidade;
Educação do Campo
Cidadania e Educação em e para os Direitos Humanos e 
Educação Integral.

Acervo pessoal


Muitas são as possibilidades, entretanto estamos cientes que existem as adversidades. Precisamos conhecer para melhor planejarmos como avançar nos desafios. Alguns deles estão inseridos em nossas rotinas seja no excesso de demandas apresentadas à escola, o que Antônio Nóvoa denomina de “transbordamento da escola”, faz com que esta deixe de realizar a práxis pedagógica, ainda, no currículo “turístico” pautado por datas comemorativas, exames internos e externos, livros didáticos, apostilas. Em outros casos, presentes no excesso de projetos sem relação com os objetivos de aprendizagem dos (as) estudantes e além desses a falta de conhecimento sobre o currículo e ausência de planejamento na escola de conhecimento sobre particularidades, identidades, culturas, valores e experiências locais e regionais.
Ao escolhermos ultrapassar o bloco do desafio nesse carnaval nossa ação e nossa reflexão poderá festejar com a clareza de que nossa verdadeira festa, irá desfilar em fevereiro de carnaval e presentear nossos alunos com um processo de ensino aprendizagem crítico e transformador na chegada do papai Noel.  Olá lá, lá ô, ô, ô, ô, ô mais que calor ooooo....

SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítica: primeiras aproximações. Campinas: Autores Associados, 1991.

FREIRE, P. Educação e Mudança. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1981.


terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

SUPER HOMEM E MULHER MARAVILHA NA ESCOLA ?

 SUPER HOMEM E MULHER MARAVILHA NA ESCOLA ?



POR MARLI DIAS RIBEIRO


          Uma metáfora abre-nos possibilidades de imaginar um tema por horizontes diferentes do habitual. Gosto de quadrinhos, por isso, os super-heróis são figuras emblemáticas e passeiam na mente de crianças e adultos, e claro, na minha através dos tempos. Parece que projetamos o impossível nos professores e professoras. Seriam eles os heróis que precisamos? O homem e mulher perfeitos e inatingíveis dos desenhos escolares?
  Cabe um alerta ao intenso processo de instrumentalização que estamos submetidos atualmente e a figura do super-homem, e mulher maravilha, me veio, ao conceber que somente um super-herói teria condições de suportar os desafios de um modelo gerencial capitalista, imposto na escola e no mundo contemporâneo que vivemos. Estamos treinando e não formando pessoas.
             Ser infalível é uma expectativa construída em torno da figura heroica do professor. Um modelo de escola caracterizado pela formatação do sujeito à produção, à tecnologia, à aprovação a qualquer custo, à inovação, eficácia e a excelência   em contraponto com a identidade, da subjetividade, e seus processos de interação coletiva, projetam uma cultura de reconhecimento e excelência para super-humanos, o que não somos. Infelizmente  não somos capazes de trocar de roupa, usar superpoderes, raios, velocidade da luz, voar, nos transformando em heróis como nas histórias em quadrinhos. O mundo real é dinâmico, inconstante, incerto e precisamos caminhar por ele como humanos que somos mesmo na ilusão de sermos heróis.
            Nessa ilusão, nessa   saga, a criptonita, pedra que ilustra o elemento que subtrai os poderes do super-homem, encontra-se presente num movimento dinâmico, global, institucionalizado nas práticas pedagógicas e em nossa formação escolar.  A cobrança nos afeta e a fraqueza não se limita a um elemento (a pedra), ela agora parece estar em muitos espaços, em tempo real, na nuvem de informações que nos acompanha em quase todos os lugares. A pedra vermelha, se é essa sua cor, já não parece sólida, muda de cor, de forma, de lugar, de brilho. Conecta-se, simula e dissimula. Atravessa nossa vida de forma letal. Aliás, mesmo os super-heróis possuem fraquezas que não reveladas. Estamos adoecendo nessa ficção da vida real, em nosso trabalho, e na cobrança exagerada por resultados nem sempre atingíveis.
 A atividade pedagógica não deveria ser caminho apenas de produção, rentabilidade, sobrevivência. O labor na escola vai além dessa simplificação. Ele pede um ser, um saber, o fazer. Por isso, para além dos heróis, que parecemos querer ser, existem pessoas que sentem, que aprendem, e que pensam. Seria magnifico se pudéssemos nos transformar em heróis para trabalharmos pelo social, pelas relações humanas, pela transformação na escola e pela escola. Por enquanto, caminhemos como heróis de nosso cotidiano, fazendo o melhor, por nossos alunos, pais e comunidade e mesmo com poderes limitados, mas muitas vezes superados,  pela incrível capacidade humana que possuímos de ter fé na educação.

Imagens: Internet


           
           


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

A CULPA É SUA PROFESSOR? O CENSO E O FRACASSO ESCOLAR

A CULPA É SUA PROFESSOR?

Podemos apontar um culpado pelo fracasso escolar?




POR MARLI DIAS RIBEIRO




A culpa é do professor. Você já ouviu essa frase. E parece ter se destacado com o resultado do Censo Escolar 2017. Ele é organizado e gerenciado pelo Ministério da Educação (MEC) e mostra um retrato das escolas brasileiras. O instrumento de pesquisa utilizado é um longo questionário de preenchimento obrigatório. E a culpa continua sendo do professor?

Durante mais de 10 anos os dados são avaliados, mas parece que com esses resultados praticamente nenhuma atitude é realmente tomada. Quando se trata de espaço escolar, sobretudo sua infraestrutura, as escolas continuam na idade da pedra. Em pleno século XXI apenas 41,6% possuem rede de esgoto. Situação agravada no Acre, Amazonas e Roraima.  Ainda temos escolas que jogam o esgoto nos rios, escolas que usam poço ou cisterna, e a incrível marca de 10% das instituições que não possuem energia nem rede de esgoto. E a culpa continua sendo do professor?

Computadores com internet nas escolas ainda continua nas nuvens. A inacreditável marca de 65,5% das escolas de Ensino Fundamental não possuem conexão com a internet, nem Banda larga, nem internet rural, e muitas nem telefone. E a culpa continua sendo do professor?


Se ter internet é algo avançado vamos falar de bibliotecas e salas de leitura. Os livros que para alguns parecem coisa do passado nas escolas brasileiras chegam de carroças. Simples salas de leitura aparecem em pouco mais de 50% das escolas. Se a leitura é base para um aprendizado efetivo, apenas o livro didático não pode suprir essa necessidade. E claro se ele chegar! Além disso, fazem parte da lista, a evasão, reprovação, e baixos índices nas avaliações nacionais como o IDEB[1].  E a culpa é de quem?


Cabe destacar que o Ensino Fundamental é de responsabilidade das redes municipais em 64% das escolas nacionais. As verbas são destinadas pelo Governo Federal por programas e outra parte advém do estado e do município. A LDB deixa claro que o Estado deve garantir padrões mínimos de qualidade, fornecendo condições para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem. Infelizmente a prioridade nunca aponta para a educação. 
O MEC diz que os problemas acometem não somente a escola, mas a sociedade em geral. Acrescenta que as prefeituras devem se esforçar em parcerias com o Estado para melhorar a situação. E a culpa?


Nessa profissão de predominância feminina e que segundo dados de 2010 do MEC quase ¼ dos trabalhadores docentes estão na profissão há mais de 20 anos, e quase 70% têm mais de 10 anos de trabalho,  não podemos atribuir o problema à falta de experiência. Que formação esses profissionais estão recebendo para lidar com tantos  desafios?


A culpa talvez seja nossa por ainda não termos transformado nossa ação educativa em uma grande revolução a favor da escola. Possivelmente,  a culpa seja nossa por continuarmos imóveis ao recebermos os resultados desse Censo Escolar 2017.  Por fim, a culpa também será nossa,  quando conseguirmos educar gerações que tenham coragem de investir em educação.


E para terminar com poesia...vamos de...  James Pizarro em: 


A CULPA É SEMPRE DO PROFESSOR.



Quando...É jovem, não tem experiência.


É velho, está superado.

Não tem automóvel, é um coitado.

Tem automóvel, chora de "barriga cheia".

Fala em voz alta, vive gritando.

Fala em tom normal, ninguém escuta.



Não falta às aulas, é um "Caxias".

Precisa faltar, é "turista"

Conversa com outros professores, está "malhando" os alunos.

Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó dos alunos.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.

Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama à atenção, é um grosso.
Não chama à atenção, não sabe se impor.

A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as chances dos alunos.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.

Fala corretamente, ninguém entende.
Fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.

O aluno é reprovado, é perseguição.
O aluno é aprovado, "deu mole".

É, o professor está sempre errado, mas,
se você conseguiu ler até aqui, agradeça a ele!


Dados: http://www.brasil.gov.br/educacao/2017/09/mec-divulga-dados-preliminares-do-censo-escolar-de-2017


[1] Criado em 2007, o Ideb é o índice que avalia a qualidade dos ensinos fundamentais e médio em escolas públicas e privadas.

SOBRE PESADELOS E SONHOS

  SOBRE PESADELOS E SONHOS Marli Dias Ribeiro  S onhos... Penso ser mais agradável iniciar pelos pesadelos, pois prefiro encerrar a escrita ...

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