INTERVENÇÃO, SÓ SE FOR NA EDUCAÇÃO!
Por Marli Dias Ribeiro
Muitos concordam que a segurança pública no Brasil passa por uma crise grave e alarmante. Se a educação fosse prioridade, o Ministério da Justiça estaria com poucos problemas. Projetos de diversos governos se mostraram ineficientes ao longo de
décadas na pasta da segurança pública. Na TV, nos jornais e revistas as páginas policiais aparecem pintadas
de vermelho, um vermelho de sangue das vítimas, ou um preto que reflete o luto
das famílias. Você acredita que uma intervenção pode resolver de forma pontual
uma violência construída por anos de descaso na educação, abandono das escolas,
dos professores? E se todo o esforço interventivo fosse direcionado às
crianças, aos jovens, à escola?
Afundado
em uma impopularidade alta o Presidente Temer decretou a intervenção federal no
Estado do Rio de Janeiro. De forma excepcional, a Constituição de 1988, artigo
84, aponta essa atribuição que foi aprovada pela Câmara dos Deputados e Senado
Federal, numa noitada de debates. Foi rápido, bateram o martelo e o Rio de
Janeiro está até 31 de dezembro de 2018 sobre intervenção. Quanta agilidade!
A
crítica, os especialistas, alertam que o impacto da intervenção na violência
será paliativo. Sem medidas sociais que combatem o desemprego, que assegurem a
educação das crianças, o serviço social e de apoio aos jovens dependentes
químicos, e outras, nada será resolvido. Acrescenta-se ainda a ausência de
planejamento, de metas e organização do projeto apresentado.
Ações
de inteligência que combatam o crime organizado e as grandes quadrilhas de
tráfico, grandes investimentos na formação de policiais são fundamentais. Construir
escolas e creches é urgente. Educar será sempre melhor que matar.
As
comunidades podem ter uma falsa sensação de segurança, os marginais podem
apenas deslocarem-se de Estado, mas ao fim dos projetos voltarão as favelas para
recrutar os jovens carentes se a situação de abandono social e educacional for
a mesma de hoje. Os menos favorecidos, os marginalizados, os afrodescendentes
são as primeiras vítimas. A intervenção do Estado deve começar na educação, na
prevenção, no acesso à cultura, ao emprego. Intervenção sim, mas na escola. Agilidade
sim, mas se forem para liberar verbas públicas ao Ensino Integral, construir
muitas creches, bibliotecas, oferecer formação e apoio as famílias em situação
de risco.
Intervenção
sim, para oferecer possibilidades e oportunidades para que nossos estudantes fiquem
na escola e digam não as drogas, ao dinheiro do tráfico, e não sejam soldados do
crime. Os custos desse decreto, somente seriam justificados se fossem utilizados
em ações educativas e sociais. É muita incompetência pensar numa ação isolada
para resolver uma questão tão complexa.
Por
fim, como disse Darcy Ribeiro (1922-1997), em uma conferência em 1982, “Se os governantes não construírem escolas, em
20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. Assim, vamos lutar por uma intervenção, porém educativa.
Imagem: https://br.noticias.yahoo.com/ninguem-fala-quem-sao-os-verdadeiros-alvos-dessa-intervencao-militar-202250389.html