A TECNOLOGIA E A EDUCAÇÃO: precisamos
refletir a complexidade humana em tempos de COVID 19!
Marli Dias Ribeiro
Pensar em tecnologia, segundo Morin (2003), passa por atentar-se
ao fato de que com a tecnologia, precisamos refletir sobre os modos de
manipulação novos e muito sutis, pelos quais, a manipulação exercida sobre as
coisas implica a subjugação dos homens pelas técnicas de manipulação (...) o
homem é manipulado pela máquina e para ela (MORIN, 2010, p, 109). Isolar o
homem à questão tecnológica é limitá-lo, educar apenas a partir de tecnologia é
limitar o estudante, pois, segundo o autor, a tecnologização é um processo
limitado e limitante, que pode inibir situações de mudanças e criações,
processos importantes e necessários em toda sociedade, e na escola.
Esse paradoxo deve nos levar
a ponderar que: “A ciência começa e
termina com problemas, e seu método consiste na escolha de problemas
interessantes e na crítica de nossas permanentes tentativas experimentais e
provisórias de solucioná-los (Popper).
Morin (2003) mostra
em seus escritos que a técnica que é produzida pelas ciências transforma a
sociedade, e a sociedade tecnologizada, retroativamente, transforma a ciência. Esse
movimento, esse processo, inter-retroativo perpassa a ciência, o Estado e atravessa
as relações na sociedade, e certamente, nossas escolas.
Nesse circuito,
o Estado desempenha um papel ativo, de acordo com seus interesses econômicos,
promove programas, e subvenções. Assim, a instituição científica suporta as
coações tecnoburocráticas estatais, de grandes aparelhos econômicos, mas estes
órgãos, não são guiados pelo espírito científico, eles apenas utilizam os
poderes que a investigação científica lhes dá, e muitas vezes, sem uma crítica
real da conjuntura social (MORIN, 2003).
O papel da
ciência e as questões éticas que envolvem o conhecimento científico e sua
regulação, reforçam questionamentos inerentes a vida em sociedade e as articulações
que chegam nos espaços educativos. Se a sociedade está tecnologizada,
mergulhada em máquinas, espaços virtuais, redes, se essa estrutura sofrer um
colapso, entraremos em colapso automaticamente? A vida hoje é dependente ou aliada
da questão tecnológica? Sobreviremos? Nos reinventaremos?
Morin (2003) reverbera sobre o grande desafio do
ponto de vista do conhecimento, do aprender, do ensinar, sobre a importância de isolarmos
a noção de tecnologia e suas relações com a sociedade, com a técnica, com o
Estado, e esquecemos das consequências desse processo. Sem a crítica, sem reflexão,
estamos fadados à cegueira. Parece pertinente observar que:
A
ciência, segundo Morin (2003, p.53), “[...] tem quatro pernas independentes
entre si: empirismo e racionalismo, imaginação e verificação”. O
progresso da ciência ocorreu em função da dialógica complexa permanente,
complementar e antagonista entre suas quatro pernas. Morin diz que “no dia em
que andar sobre duas pernas, ou tiver uma perna só, a ciência desabará (Ibid.,
p.190).
Desta forma,
o grande dilema, aplica-se ao fato de que podemos estar usando a tecnologia em
todos os nossos esquemas de trabalho, de vida social, de concepção de homem,
adotando um o predomínio técnico na formação do cidadão, entretanto, não
seguimos enquanto pessoas, a lógica matemática de máquinas artificiais, não
somos programados linearmente. Somos seres complexos, ecológicos, espirituais,
integrados.
A
complexidade, a desordem, os conflitos e os processos humanos não são
compreendidos na singularidade de códigos digitais. Ressalta-se a necessidade
de se repensar os contextos entre tecnologia e sociedade, nos questionarmos sobre
o conhecimento e suas relações tecnológicas, a caminhar com cuidado e ética na
análise epistêmica sobre os rumos de uma sociedade tecnologizada. Como explica
Morin (2003), talvez já possamos, ou não tenhamos, condições de separar o
conceito tecnologia do conceito de ciência.
Por fim, não somos binários, numericamente programados, em zeros e uns. Somos humanamente, gente! Somos capazes: “ de lutar com
palavras, em vez de lutar com armas, isso, se constitui o fundamento da nossa
civilização (Karl Popper).
MORIN, E. Os sete saberes
necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e
Jeanne Sawaya. São Paulo: Cortez, 2003.
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