EDUCAÇÃO E JUVENTUDES NO BRASIL
ALGUNS PONTOS QUE TODOS OS EDUCADORES PRECISAM SABER
POR MARLI DIAS RIBEIRO
A juventude é um dos objetos de trabalho da Pedagogia Social e debater o perfil do jovem pode ser mais uma possibilidade de ampliar horizontes acerca dos desafios que envolvem esse grupo. O conceito de jovem e juventude aparece envolto na cultura e nas relações sociais e não está unicamente marcado por fatores de ordem etária ou fatores biológicos.
Hoje, falamos em juventudes, e grupos de jovens, devido as características percebidas, enquanto resultados de contextos que atravessam determinadas gerações, e em alguns momentos, se cruzam.
A pirâmide etária do Brasil vem sofrendo transformações ao longo das últimas 3 décadas, mas nosso pais, é um pais ainda jovem, com seus 50,2 milhões de rapazes e moças. Uma nação de sujeitos ativos que está inserida num planeta que se prepara para passar à idade adulta em um mundo cada vez mais desigual, competitivo e líquido. Estudar esse grupo é um desafio constante pois, o impacto de suas características são indicadores importantes para qualquer Nação.
Em termos didáticos o recorte etário para juventude inscreve-se em duas abordagens: A Convenção Ibero-americana de Direitos da Juventude e a Organização das Nações Unidas (ONU) consideram que a juventude é o período compreendido entre 15 e 24 anos, faixa etária também adotada pelo Brasil até a promulgação do Estatuto da Juventude, no Brasil, ficou delimitado, como juventude, o indivíduo da faixa etária de 15 a 29 anos. Na classificação brasileira atual (15 a 29 anos), os indivíduos são agregados por faixas de idade e classificados como jovens ao longo desses 15 anos.
Os grupos são separados levando em consideração características mais marcantes, e o contexto sócio educacional. Desta forma:
- De 15 a 17 anos o jovem é classificado como adolescente,
- De 18 a 24 anos chega a maioridade penal, normalmente, finaliza a educação básica, iniciando, em alguns casos, a formação universitária ou técnica,
- De 25 a 29 anos destaca-se o final da juventude em que a autonomia do indivíduo se consolida, cursando o nível superior, entrando no mercado de trabalho formal. É nessa fase que existe um percentual maior de jovens que se casa ou sai da casa dos pais.
Muitos são os dados apresentados sobre a realidade da juventude brasileira. De forma resumida, podemos destacar que esse grupo no Brasil é formado em sua maioria por jovens pardos ou negros, economicamente (83,5%) pobres, que vivem em famílias com renda per capita inferior a 1 salário mínimo. Em relação a escolaridade a evasão e a defasagem atinge principalmente os jovens de 15 a 17 anos e onde cerca de menos de 2% somente, haviam concluído o Ensino Médio.
Nacionalmente, a taxa de quem frequenta ou já frequentou a escola também é baixa, apenas 18,7%. Essa realidade atinge sobremaneira os jovens negros e de baixa classe social quando comparamos as classes mais favorecidas um reflexo direto da desigual distribuição de renda do pais.
Como os jovens das gerações passadas, a marca da transformação e da mudança também identificam essa geração. Num mundo cercado por tecnologias e mudanças rápidas, a vida está ligada diretamente à necessidade de informação imediata, e o jovem se caracteriza pela ansiedade, velocidade, inconstância e, consequentemente, pelo contato constante e direto à tecnologia.
A regra social vincula-se ao consumo e a pouca renda é gasta com eletrônicos, bebidas, cosméticos, roupa, gastronomia, viagens e balada. Ou seja, consumo diretamente relacionado ao prazer, sem planos para o futuro, o momento é o agora.
As preocupações sociais giram em torno de garantias como segurança, o trabalho, e as lutas da geração atual parecem ligadas a ideais diferentes das gerações anteriores. O foco principal aparece em direitos das mulheres, na desigualdade social, no meio ambiente, no trabalho que gere prazer, nas redes sociais.
De muitos desafios que cercam a juventude, talvez a violência seja o que mais impressiona. Os dados são alarmantes. No Mapa da Violência no Brasil, estudo de Waiselfiz (2016), é possível afirmar que praticamente 95% da utilização letal das armas de fogo no Brasil tem como finalidade o extermínio intencional do próximo.
Mais de 90% de casos de mortes por homicídios são de homens jovens. E ainda instigante notar que aos 20 anos de idade os homicídios por atingem a impressionante marca de 67,4 mortes por 100 mil jovens, dados que são maiores que de países em guerras e conflitos. No Alagoas, em 2014, foram assassinados 60 brancos e 1.702 negros revelando o viés de gênero bastante forte nas mortes.
A vida do jovem brasileiro é marcada por grandes desafios. Mesmo sendo a população que carrega a marca de ser responsável pelo futuro do pais, ainda são precárias as condições de vida a qual estão submetidos, ainda falta educação, segurança, saúde. O Brasil não mantém políticas públicas fortes que atendam esses sujeitos, e muitos deles nem trabalham, nem estudam, estando vulneráveis à exploração, ao desvio e baixa qualidade de vida.
Por fim, agregar esforços para compreendermos esses sujeitos e associar a essa questão garantias de vida dignas, políticas públicas eficientes, poderiam alterar problemas como a violência, o abandono, e outros tantos. Essa tarefa não pode ser realizada por uma instituição isolada, a complexidade do assunto, merece uma ação coletiva e persistente de todos e obviamente de nós educadores, de nossas escolas, de toda sociedade.
Referências:
WAISELFIZ, Júlio Jacob. Mapa da violência: homicídios por armas de fogo, 2016. Brasília: Ministério da Justiça e Cidadania, Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR); Secretaria de Governo da Presidência da República, Secretaria Nacional de Juventude (SNJ). Brasil, 2016.
CODEPLAN. O Perfil da Juventude do Distrito Federal Uma análise dos dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios 2015/2016.
BOTELHO, Rosana Ulhôa. SILVA, Enid Rocha Andrade da. Dimensões da experiência juvenil brasileira e novos desafios às políticas públicas– Brasília: Ipea, 2016.
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