SOBRE O LIVRO: NÃO VOU MAIS LAVAR OS PRATOS, DE CRISTIANE
SOBRAL
Por Marli Dias Ribeiro
A
literatura abre possibilidades, e nesse livro, pude refletir muitos fatos
vividos e vistos no cotidiano feminino. Pelo livro, parece ser possível tratar um
tema polêmico, complexo e com números alarmantes como o caso da violência
contra mulheres. Pelo livro parece ser possível ir além de informações prontas
ou análises frias de dados. A vida torna-se impregnada nos versos.
No verso da minha vida, da sua vida, e da vida de Cristiane Sobral, todas nós mulheres, educadoras, escritoras, gente, somos representadas. Esse livro que indico e aponto, arte e luta em forma de letras.
No verso da minha vida, da sua vida, e da vida de Cristiane Sobral, todas nós mulheres, educadoras, escritoras, gente, somos representadas. Esse livro que indico e aponto, arte e luta em forma de letras.
E
os dados.... Vamos aos dados: em 2013,
13 mulheres morreram todas vítimas de feminicídio, pelos dados de 2015 o assassinato
de mulheres negras aumentou (54%)
e o de brancas diminuiu (9,8%), no estado do Rio de Janeiro, há um caso
de estupro em escola a cada cinco dias e 62%
das vítimas tinham menos de 12
anos, a violência parece não cessar apesar da Lei Maria da Penha.
Nessa lógica, a literatura que perpassa tempos, espaços e contextos nos permite uma releitura da realidade, da pessoa. Uma identificação que pode ser alcançada quando entre as linhas de um texto revelam-se o íntimo, o oculto, a representação imaginária de uma vontade velada pela voz, mas descrita, escrita em livros e em vidas. Foi esse sentimento que se apoderou de mim.
Nessa lógica, a literatura que perpassa tempos, espaços e contextos nos permite uma releitura da realidade, da pessoa. Uma identificação que pode ser alcançada quando entre as linhas de um texto revelam-se o íntimo, o oculto, a representação imaginária de uma vontade velada pela voz, mas descrita, escrita em livros e em vidas. Foi esse sentimento que se apoderou de mim.
Não vou mais lavar os pratos! Sonoro
grito de liberdade. Essa metáfora forte e viva me inspira. Me lembra que hoje,
aprendi a ler, comecei a ler, e não lavo
mais as roupas, os sapatos, os pés do senhor, da senhora.! Será que decretei
minha Lei Áurea? Confesso que tenho pensado, ainda tenho interrogações quando
observo minha rotina e a rotina de muitas mulheres.
Somos muitas e subjugas, discriminadas, violentadas. Cristiane Sobral, diz em sua poesia: Agora que comecei a ler entendi (Cristine Sobral). Pura verdade, o mundo se abre e se abriu, quero entender, rever, criticar e lutar. Ainda tentam calar a nossa fala, a nossa escrita, nossas vidas. Vamos ler, alfabetizar-se, nos alfabetizar. Vamos juntas.
Somos muitas e subjugas, discriminadas, violentadas. Cristiane Sobral, diz em sua poesia: Agora que comecei a ler entendi (Cristine Sobral). Pura verdade, o mundo se abre e se abriu, quero entender, rever, criticar e lutar. Ainda tentam calar a nossa fala, a nossa escrita, nossas vidas. Vamos ler, alfabetizar-se, nos alfabetizar. Vamos juntas.
Mas,
sim, lavei roupas, pratos, ao lado de minha mãe. As mulheres que conhecei foram e são guerreiras ( grifo meu),
firmes diante das chibatas da realidade. (Cristine Sobral). Por isso, em longos anos lavei as roupas,
com esse grito preso pela rotina intensa de um trabalho suado, executado para
manter a família.
Consegui dizer, apenas falei, não gritei. Foram tempos de violência, uma violência ainda presente, ela ainda resiste. E depois de alguns anos, as letras me
ensinaram a ver outros rumos, outros mundos. As letras ensinam, foi no livro que aprendi. Foi quando, enfim, puder tirar a sujeira dos meus olhos. A sujeira, ah, dessa lavei-me.

Encerro
esse escrito com trechos do poema Resiliência, do mesmo livro de Cristiane Sobral:
Talvez eu tenha que saltar um muro
Posso até quebrar as pernas (...)
Mas não me entregarei simplesmente
O mal não vai encontrar futuro
(...)
Enxergarei uma nova estrada
diante de mim.
Desejo
novas estradas, sem violência a todas as mulheres, e a Cristiane, novos livros,
prosas poéticas, para nos aventurarmos em sua criação transformadora, grito
negro e pardo, e branco e de todas as cores. Grito contra todas as formas de violência.
SOBRAL, Cristiane. Não vou
mais lavar os pratos. Brasília: Atalaia, 2010.
Sobre Cristiane Sobral, acesse
seu blog: http://cristianesobral.blogspot.com.br/
Dados acesse o site: Panorama da violência contra as mulheres no Brasil: indicadores
nacionais e estaduais (Observatório da Mulher contra a
Violência/Senado Federal, 2016).
Sobre a Lei Maria da Penha: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/lei-maria-da-penha/sobre-a-lei-maria-da-penha
Imagem: arquivo pessoal
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por sua visita.